Introdução
O sarampo é uma doença viral prevenível por vacinação, transmissível por
via respiratória, com alto poder de disseminação e de evolução para
gravidade, especialmente em indivíduos com déficit imunológico (Brasil,
2023). Estudos na Europa e Estados Unidos mostraram que um caso de
sarampo pode transmitir a doença para cerca de 12 a 18 pessoas (Guerra
et al, 2017). Os reflexos desta doença podem ser ainda mais graves e de
maior magnitude em regiões com alta vulnerabilidade social, com maior
risco de insegurança alimentar e desnutrição infantil (Xia et al, 2022).
O alto poder de disseminação pode desestruturar e comprometer a vida nas
áreas rurais e indígenas, que dependem do trabalho físico e ações
coletivas para garantir a sobrevivência das famílias, tais como caça,
pesca, plantio de subsistência, cuidado dos animais, além da dificuldade
de acesso aos serviços de saúde (Ogbu et al, 2022; Coimbra Jr, 1987).
A principal medida de prevenção contra o sarampo é a vacina. Além das
ações de imunização, a vigilância epidemiológica do sarampo engloba
ações para o diagnóstico e detecção oportuna, isolamento, tratamento e
monitoramento dos casos e suas complicações (Brasil, 2023; Rall, 2003).
A vacina de sarampo foi introduzida no Brasil na década de 1960 e várias
campanhas de vacinação ocorreram nas décadas subsequentes, em resposta
às epidemias e com o intuito de controlar esta e outras doenças
imunopreveníveis associadas às altas taxas de mortalidade infantil
(Domingues et al, 1997). O Programa Nacional de Imunizações (PNI) foi
criado em 1973 e, nos seus 50 anos de existência, foi fundamental na
redução da transmissão de doenças imunopreveníveis, tornando-se
referência mundial, reconhecido pela Organização Mundial e Panamericana
de Saúde (OMS e OPAS). Oferta, gratuitamente, mais de 45 imunobiológicos
no Sistema Único de Saúde e, portanto, é um dos maiores programas de
vacinação do mundo (Brasil, 2023).
A vacina contra o sarampo entrou no calendário de imunização de rotina
para as crianças em 2000. Inicialmente, era ofertada a vacina
monovalente aos nove meses de idade da criança, substituída pela vacina
tríplice viral, contra sarampo, rubéola e cachumba, aos 12 meses de
idade. Desde 2007, tem sido recomendada duas doses, aos 12 e 15 meses de
idade e, a partir de 2013, a segunda dose da vacina de sarampo passou a
ser aplicada em conjunto com a vacina da varicela, por aplicação
simultânea das duas vacinas ou da vacina conjugada tetraviral (Brasil,
2023).
Em 2016, o Brasil recebeu o certificado de eliminação do sarampo na
Organização Panamericana de Saúde (OPAS), época em que a região das
Américas foi considerada a primeira zona livre de sarampo do mundo.
Entretanto, o Brasil perdeu este certificado de eliminação do sarampo em
2019, devido ao retorno da transmissão desta doença em território
nacional, relacionada à redução da cobertura vacinal (Sato et al, 2023;
Brasil, 2023).
Fonte: Elaborado pela autora Bonimond.
Aspectos metodológicos
Este boletim tem o objetivo de apresentar a evolução temporal e a
distribuição espacial da cobertura da vacina tríplice viral e dos casos
de sarampo no Brasil, no período de 2003 a 2020. Ele mostra gráficos de
linhas e mapas das informações anuais da cobertura vacinal e número de
casos, consolidadas por região, unidade da Federação (UF) e
microrregião. Adicionalmente, foram avaliadas mudanças na tendência da
série de cobertura vacinal anual nas regiões pelo modelo de regressão
segmentada de joinpoint.
Fonte de dados
As informações foram extraídas dos Sistemas de Informação de imunização
(SI-PNI) e de notificação de agravos (SINAN). As informações do Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH) e a população do Censo Demográfico 2010
foram obtidas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dados
sobre óbitos infantis foram coletados no Sistema de Informação de
Mortalidade (SIM) e os dados da cobertura de atenção básica foram
extraídos da Secretaria de Atenção Primária a Saúde em https://egestorab.saude.gov.br/paginas/acessoPublico/relatorios/relHistoricoCoberturaAB.xhtml.
As informações foram obtidas em planilhas no Microsoft Excel e
analisadas no software livre R 4.3.2.
Financiamento
Este projeto recebeu o financiamento da Rede PMA APS - Programa de
Políticas Públicas, Modelos de Atenção e Gestão do Sistema e Serviços de
Saúde sobre Atenção Primária à Saúde (2020-2023).